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Imagens de ausência: o retrato fotográfico como simulacro durante o período romântico

Nuno Borges de Araújo
2017
22 páginas

O retrato fotográfico, tal como já acontecia com o retrato pictórico, do qual herdou uma tradição iconográfica, tem como objectivo a fixação da imagem do retratado, para cumprir determinadas funções sociais. Durante o período romântico, em particular a partir dos anos sessenta do século XIX, os seus usos mais comuns são como cartão de visita, integrando álbuns, ou encaixilhado e exposto sobre móveis ou afixado em paredes de espaços familiares ou institucionais. Além destes, houve usos menos convencionais, como aqueles cuja existência no contexto familiar está directamente relacionada com a ausência física do retratado. Pode ser uma ausência definitiva, por morte, ou temporária, por motivo de viagem, mudança de residência ou emigração. No primeiro caso, os retratos usados podem ter sido tirados ainda em vida das pessoas ou post-mortem. Estes últimos, eram sobretudo mandados tirar a pessoas que nunca foram retratadas em vida, particularmente crianças, e das quais se queria preservar a imagem. Eram normalmente guardados numa esfera de privacidade, embora pudessem ser mostrados a familiares e amigos. Outra prática frequente era a de trazer em medalhões e outras jóias, retratos fotográficos de familiares próximos, como o marido, o pai ou a mãe. Estes também eram, com frequência, de pessoas falecidas ou ausentes, cuja memória se pretendia manter presente na vivência quotidiana, e mesmo expressá-lo publicamente. Neste caso, a proximidade física que se estabelece entre o portador do retrato e o retratado é tão mais pertinente quanto maior for o sentimento que os une e quanto mais prolongada, senão definitiva, for a sua ausência.


Palavras-chave: fotografia, século XIX, Romantismo, post-mortem, joalharia