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Death and Politics: The Unknown Warrior at the Center of the Political Memory of the First World War in Portugal

Sílvia Correia
2013
23 páginas

Nas palavras de George L. Mosse, a experiência mais marcante da guerra moderna foi o assassinato de massa sancionado pelo Estado (1990). A extensão do conflito e o seu rastro de destruição afetariam não só os combatentes, mas a sociedade como um todo. Muito além da experiência individual dos veteranos ou da memória do grupo dos soldados, a morte foi um elemento estrutural na construção da memória política da Primeira Guerra Mundial. Esta análise centra-se não só sobre o impacto da morte sobre os combatentes individuais ou os combatentes, como um grupo, mas principalmente sobre a maneira pela qual foi apropriada pela sociedade e pelos poderes políticos através de processos, especificamente concebidos, para a mascarar. O objetivo do Estado passa por apagar o desestabilizador impacto na opinião pública das vítimas, neutralizando-as em novas e antigas estruturas ambientais e arquitectónicas, criando um novo léxico da morte. A ideia era evitar uma revolta pelo sacrifício de massa. Assim, o governo procurava, pelo culto dos mortos, estabelecer um consensual orgulho em nome da nação, uma tentativa idílica e metafórica de revalorizar a morte num sentido religioso, político e ideológico, tentando superar a realidade da morte de massa no campo de batalha. Tendo em conta a natureza profundamente fúnebre dos processos de rememoração da Grande Guerra em Portugal, este artigo irá abordar a integração dos ritos memoriais portugueses na cultura de guerra europeia e irá permitir o entendimento do papel central da morte no processo de rememoração da Grande Guerra. Este texto procurará, também, descrever o tratamento dos mortos e a delineação dos lugares de memória, focando principalmente nos soldados desconhecidos portugueses, como forma de compreender a natureza e as principais questões em torno da memória oficial da Primeira Guerra Mundial em Portugal entre 1918 e 1933.


Palavras-chave: Primeira Guerra Mundial; República; Memória; Cultura de Guerra; Soldado Desconhecido