CEPESE CEPESE | CENTRO DE ESTUDOS DA POPULAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE

Amoras bravas no Verão: o país de Eugénio de Andrade

Augusto Santos Silva
2011
16 páginas

Este artigo propõe uma leitura da poesia de Eugénio de Andrade (1923-2005), como elaboração criativa sobre questões de identidade. E, em particular, procura caracterizar a relação entre o poeta e o seu país. Põe, assim, em relevo uma dupla afinidade. Afinidade da poesia solar com a experiência vivida ao rés-do-chão, rente à terra e ao território, das portuguesas e dos seus filhos. E afinidade da poesia consigo própria, com a opção radical pela expressão mais lapidar, e por aí afinidade formal com essoutros trabalhos de transformação de simples matérias disponíveis em obra sua e comunicável para uso de outrem, esses trabalhos que qualificam os camponeses, os artesãos e as lides caseiras. A poesia não é, pois, um derivado, para o poeta, um efeito ou uma aplicação da representação da pátria; a pátria é que é um efeito da poesia: uma criação da palavra poética. A palavra poética é a mais forte e mais constante ligação de Eugénio de Andrade ao seu país.